Definição
A Terapia Nutricional (TN) se refere ao conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio da Nutrição Parenteral (NP) ou Nutrição Enteral (NE). A Terapia de Nutrição Enteral (TNE) ou NE engloba a prática do uso de alimentos dietéticos para fins médicos especiais pelo trato gastrointestinal, independente da via de entrega. A ESPGHAN (2010) apoia a definição de NE abrangendo tanto a administração de formulações líquidas via dispositivos quanto o fornecimento de suplementos nutricionais especializados por via oral.
O médico é responsável pela prescrição médica da NE, que corresponde à determinação das diretrizes, prescrição e conduta necessárias para a sua prática, baseadas no estado clínico nutricional do paciente. Cabe a ele também assegurar o acesso ao trato gastrointestinal (TGI) do paciente, estabelecendo a melhor via, incluindo estomias de nutrição por via cirúrgica, laparoscópica e endoscópica.
Indicações
A NE é indicada quando as necessidades de energia e nutrientes não podem ser atendidas pela ingestão regular de alimentos em um paciente com intestino pelo menos parcialmente funcional.
O modo mais apropriado de intervenção nutricional será determinado pela idade do paciente, condição clínica, função gastrointestinal (digestiva e absortiva), a possibilidade e a viabilidade de ingestão oral, hábitos alimentares e custos. Após avaliação, o paciente pode receber aconselhamento dietético, suplementos nutricionais orais, um regime específico de alimentação NE ou NP. Vale ressaltar que a NE apresenta as seguintes vantagens em comparação com a NP:
- Preserva a função gastrointestinal;
- Apresenta-se tecnicamente mais simples, com melhor perfil de segurança;
- Evita complicações associadas à NP, como sepse relacionada ao cateter e doença hepática;
- Custa 2 a 4 vezes menos que a NP.
Para atingir as metas nutricionais em alguns contextos clínicos, NP e NE, combinadas, também chamadas de NP parcial, pode ser necessária mesmo na presença de um intestino funcional, como é no caso de pacientes com resultado nutricional insatisfatório mesmo em uso de NE. Outra situação que indicaria a NP parcial é quando há fornecimento insuficiente das necessidades energéticas devido, principalmente, à restrição de líquidos, prescrição ou entrega inadequadas. São também causas comuns de falha da administração da NE a instabilidade clínica, a necessidade de manejo das vias aéreas, procedimentos diagnósticos, complicações gastrointestinais e uso de determinados medicamentos.
Apesar de não serem baseados em evidências, os critérios para intervenção nutricional em pediatria, segundo a ESPGHAN (2010), estão listados na tabela seguinte:
Contraindicações
O jejum completo deve ser evitado sempre que possível. Mesmo quantidades mínimas de nutrientes no TGI, a chamada alimentação trófica, podem promover a perfusão intestinal, iniciar a liberação de hormônios entéricos e melhorar a função da barreira intestinal.
As contraindicações absolutas à TNE incluem:
- íleo paralítico ou mecânico;
- obstrução intestinal;
- perfuração intestinal e enterocolite necrosante.
As condições consideradas como contraindicações relativas incluem dismotilidade intestinal, megacólon tóxico, peritonite, sangramento gastrointestinal, fístula entérica de alto débito, vômitos intensos e diarreia intratável. Nessas circunstâncias clínicas, a NE deve ser fornecida na extensão máxima tolerada pelo paciente, com NP compensando qualquer déficit nutricional.
Outro ponto que vale ser ressaltado é de que o uso de alimentos normais em purê (misturados) para alimentação por sonda não é encorajado devido ao risco de inadequação nutricional e contaminação microbiana.
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Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 503/2021. Dispõe sobre os requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral. Diário Oficial da União. 2021 mai 31;101(seção 1):113. Available from: https://nutritotal.com.br/pro/wp-content/uploads/sites/3/2021/06/RDC-503_270521.pdf
Braegger C et al.; ESPGHAN Committee on Nutrition:. Practical approach to paediatric enteral nutrition: a comment by the ESPGHAN committee on nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2010 Jul;51(1):110-22. doi: 10.1097/MPG.0b013e3181d336d2. PMID: 20453670.