A constipação é um dos dez problemas mais frequentes no consultório do pediatra geral, sendo responsável por até 25% dos encaminhamentos para gastroenterologistas pediátricos em todo o mundo.
A Constipação refere-se a falta de periodicidade na defecação, fezes volumosas e dificuldade ou dor durante a defecação. A Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição (NASPGHAN) define constipação como um atraso ou dificuldade na defecação presente por duas semanas ou mais.
Já a constipação funcional (CF) é definida quando não há causa orgânica subjacente, o que ocorre em até 95% das crianças. Ela resulta de repetidas tentativas dolorosas e de retenção voluntária de fezes por uma criança que tenta evitar a defecação desagradável por causa de medos associados à evacuação, gerando um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. Esse comportamento retentivo leva ao acúmulo de fezes, fazendo com que o cólon absorva mais água, criando fezes duras e cada vez mais volumosas, podendo gerar a impactação fecal (veja a figura abaixo), evento que ocorre em aproximadamente 50% das crianças com CF.
Os critérios de Roma IV (2016) trazem os achados que fecham o diagnóstico de CF, a depender da idade da criança:
Nos primeiros anos de vida, um episódio agudo de constipação devido a uma mudança na dieta, por exemplo, pode levar à passagem de fezes secas e duras, gerando uma defecação dolorosa. Em crianças pequenas, o início da constipação pode coincidir com o treinamento esfincteriano, quando a pressão excessiva do cuidador para manter o controle intestinal e/ou técnicas inadequadas, como o uso de banheiros regulares que não permitem apoio suficiente para as pernas, podem levar à retenção de fezes.
A etapa mais importante na abordagem diagnóstica da constipação é uma história médica completa, incluindo um diário de constipação e um exame físico cuidadoso, a fim de identificar os sinais de alarme para constipação orgânica, realizando-se diagnostico diferencial com outras patologias de base, como é pontuado nas tabelas a seguir.
Para fazer o rastreio inicial das causas orgânicas de constipação, sugere-se os exames abaixo, comumente de fácil acesso para uma avaliação geral:
Outras definições
Constipação intratável: Constipação que não responde ao tratamento convencional IDEAL por pelo menos 3 meses.
Impactação fecal:
- Massa endurecida na parte inferior do abdome identificada no exame físico; ou
- Reto dilatado e preenchido por grande quantidade de fezes no toque retal; ou
- Fezes em grande quantidade na parte distal do cólon na radiografia de abdome (veja imagem abaixo).
Atenção: O uso rotineiro do Rx de abdome não é indicado. Deve ser realizado se houver suspeita de impactação fecal quando o exame físico não é confiável/possível.
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Referências
Benninga MA et al. Childhood Functional Gastrointestinal Disorders: Neonate/Toddler. Gastroenterology 2016;150:1443–1455.
Hyams JS et al. Childhood Functional Gastrointestinal Disorders: Child/ Adolescent. Gastroenterology 2016;150:1456–1468.
Tabbers MM et al. Evaluation and Treatment of Functional Constipation in Infants and Children: Evidence-Based Recommendations From ESPGHAN and NASPGHAN. JPGN 2014;58: 258–274.
Xinias I, Mavroudi A. Constipation in Childhood. An update on evaluation and management. HIPPOKRATIA 2015;(19)1:11-19.