Olá, queridos pediatras!
Hoje eu quero conversar com vocês, na verdade levantar alguns questionamentos sobre alguns conteúdos que vemos nas redes sociais e seu embasamento científico. Uma forma bem didática de explicar às mães sobre o tamanho do estômago do bebê e a oferta de leite materno nos primeiros meses de vida, que com certeza você já deve ter visto, é a seguinte comparação:
Buscando evidências que corroborassem com essa comparação que já está tão enraizada no meio pediátrico e materno, busquei no PubMed e encontrei uma revisão de literatura bem interessante.
Nela, o autor buscou artigos científicos que avaliassem a capacidade gástrica pré-natal ou pós-natal, a partir do volume, anatomia e dimensões. Seu objetivo era discutir o intervalo de alimentação desses bebês, baseado no tamanho dos seus estômagos, embora este não seja o ponto de interesse da minha discussão.
Ele encontrou oito trabalhos no total. Cinco deles avaliaram o tamanho do estômago baseando-se no ultrassom pré-natal de bebês a termo e através da medida do aspirado gástrico ou pressão inseridas no estômago de recém-nascidos a termo. Eles encontraram um dado de 10-20ml de capacidade gástrica.
Os outros três estudos avaliaram anatomicamente a capacidade gástrica por meio de óbitos neonatais de bebês a termo em autópsia. Neste caso, o tamanho variou de 15 a 35ml.
O autor destaca que apesar da alimentação neonatal ser um tema tão importante, poucos dados básicos ou pesquisa baseada em evidências sobre a capacidade gástrica de recém nascidos foram encontrados. Apesar de serem ‘antigos’, esses estudos fornecem resultados consistentes. Dessa forma, ele estabelece que há suporte para afirmar que a capacidade estomacal de um bebê a termo é de aproximadamente 20 mL, ou seja, o bebê já nasceria com o estômago do tamanho de uma noz.
Essa revisão acaba por sugerir que o intervalo entre os ciclos sono-alimentação fossem de uma 1 hora, já que intervalos mais longos compensados com uma oferta maior de volume alimentar poderiam ser estressante para os bebês, gerando regurgitação, refluxo e hipoglicemia, além da demanda materna de que ela precisa produzir muito leite para saciar o bebê.
Não, não estamos concluindo que o bebê deve ser amamentado de uma em uma hora. A oferta de leite materno em livre demanda é soberana. Cada bebê tem seu tempo. O que podemos inferir disso é:
- Nos primeiros dias de vida, o bebê precisa de pouco volume de leite, de forma mais frequente. Por isso, mamãe, não se cobre tanto quanto à sua produção. Espere o tempo necessário para a apojadura. Nesse período, o bebê deve sugar e podem ser feitas manobras de ordenha para estimular a produção, mesmo que se tenha impressão que “há pouco leite”. Você saber disso evita muita aflição que podde levar a uma oferta de formula infantil e, consequentemente, o desmame precoce, alergias, entre outros.
- Evidência científica sempre. Evite replicar uma informação se ainda não sabemos a fonte. Inclusive, se alguém tiver a referência desse dado do tamanho do estômago x dias de vida do bebê que todo mundo fala na internet, me envia aqui :)
Ah! Outra coisa muito interessante que li nesse artigo foi que o nosso queridíssimo contato pele a pele mãe-bebê reduz os níveis do hormônio somatostatina e, consequentemente, a ocorrência do refluxo. O contrário também é verdade: a separação da dupla aumenta esse hormônio e pode induzir a regurgitações mais frequentes.
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