
Que as crianças adoram assistir e jogar nos smartphones é uma verdade. Mas você já percebeu que eles ficam ainda mais felizes quando estão interagindo e brincando com outras pessoas? Nada substitui o contato e o carinho humano e isso é infinitamente melhor para o desenvolvimento infantil.
Crianças estão o tempo todo em movimento, descobrindo o mundo, criando... e é assim que deve ser, já que precisam de estímulos diversos para alcançarem todo seu potencial. Usar excessivamente telas de celulares, tablets e TVs para aquietá-las vai de encontro a isso, tornando as crianças passivas ao meio.
O excesso de telas afeta o desenvolvimento em todas as idades. Cito aqui apenas alguns prejuízos: Atraso na fala, transtornos do sono, com redução da concentração, prejuízos no aprendizado e na socialização, problemas visuais, sedentarismo e, consequentemente, obesidade infantil, além de outros transtornos alimentares...
Vamos entender melhor alguns deles?
Uso de telas x Alimentação
O uso de telas pode dar a impressão de ser “aliado” na hora das refeições, pois distrai a criança, que parece comer mais rápido e com menos esforços. No entanto, quando ela não presta atenção ao que ingere, há uma interferência nos mecanismos que reconhecem os sinais de fome e de saciedade. Estar atento ao sabor dos alimentos durante seu consumo faz parte da prevenção da obesidade infantil.
O hábito de assistir telas durante as refeições pode levar a criança a comer exageradamente sem perceber e a desejar, cada vez mais, refeições rápidas e práticas. Além disso, há um impacto direto na mastigação e digestão, o que atrapalha a absorção dos nutrientes.
O momento da refeição deve ser algo positivo e prazeroso. Os adultos também precisam se afastar dos dispositivos durante as refeições, criando uma oportunidade de relacionamento e diálogo familiar. Vale também brincar com os alimentos e deixar o prato mais divertido para estimular os pequenos a experimentar a maior variedade possível.
Uso de telas x Visão
Quando é excessivamente exposta às telas, a criança utiliza sua visão “de perto” na maior parte do tempo, o que predispõe ao surgimento de miopia (dificuldade para enxergar objetos distantes), por exemplo. Pode haver também o ressecamento do olho, como resultado de falha na lubrificação ocular, já que piscamos menos quando estamos assistindo.
Além disso, o brilho das telas, que tem faixa de onda de luz azul presente, contribui para o bloqueio da melatonina, ocasionando dificuldades para dormir e ter uma boa qualidade de sono, fator essencial para o crescimento nessa fase.
Observe seu filho quanto à ocorrência de dores de cabeça frequentes ou necessidade de franzir a testa e apertar os olhos para conseguir ler ou enxergar objetos. Problemas oculares acabam interferindo no desempenho escolar e merecem uma intervenção precoce.
Uso de telas x TDAH
Uso de telas superior a 2 horas/dia está associado a prejuízos na atenção em crianças. É o que diz um estudo publicado em 2019, realizado no Canadá com mais de 2mil crianças, revelando que tempo superior a 2horas/dia de exposição a telas aumenta em 5 vezes o risco de apresentar dificuldade de concentração e em 7 vezes o risco de demonstrar sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Alguns fatores protetores contra os efeitos negativos do tempo de tela também foram identificados: sono de boa qualidade e, principalmente, a prática de atividades esportivas pelo menos 2 horas durante a semana.
Uso de telas x Obesidade
Outro ponto sobre o uso de telas que está relacionado a obesidade infantil é o tempo de inatividade: as crianças que usam telas excessivamente tornam-se sedentárias, tendo um gasto de energia menor, com tendência ao acúmulo de gordura corporal.
Sempre supervisione e adeque limites, buscando alternativas para entretenimento dos pequenos, como brincadeiras que estimulem o desenvolvimento, de acordo com a faixa etária, e atividades esportivas ou externas em contato com natureza.
Então, qual deve ser o limite do uso de telas?
Como conhecimento é poder e o primeiro passo para a mudança é a informação, veja as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o assunto.
- Evite a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, sem necessidade, nem mesmo de forma passiva;
- Para crianças com idades entre 2 e 5 anos, limite o tempo de telas ao máximo de 1 hora/dia;
- Já as crianças entre 6 e 10 anos, limite o tempo de telas ao máximo de 1-2 horas/dia;
- Adolescentes com idades entre 11 e 18 anos, limite o período de telas e jogos de videogames a 2-3 horas/dia, e nunca deixe “virar a noite” jogando;
- Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar 1-2 horas antes de dormir;
- Toda exposição a telas deve ser feita de forma supervisionada pelos responsáveis da criança.