
Quando o bebê nasce, ele deve realizar alguns exames que identificam precocemente doenças cardíacas, auditivas, oculares e metabólicas. Você já sabe quais são eles?
Os exames que são realizados logo após a criança nascer fazem parte da triagem neonatal. Em alguns locais, esses exames são realizados de forma gratuita, ainda na maternidade. E isso não é por acaso: esses testes têm como objetivo identificar em tempo oportuno distúrbios e doenças no recém-nascido, com o intuito de realizar uma intervenção precoce, garantindo tratamento e acompanhamento contínuos àqueles com diagnóstico positivo.
Essa triagem é composta pelo teste do pezinho, teste do olhinho, teste da orelhinha, teste do coraçãozinho e teste da linguinha. Vamos entender um pouco sobre a finalidade e importância de cada um deles?
Teste do pezinho
O Teste do Pezinho é um exame rápido, através do qual é possível diagnosticar vários tipos de doenças genéticas ou metabólicas – antes mesmo do surgimento de sinais e sintomas – e tem como finalidade impedir a progressão desses distúrbios e suas complicações, facilitando o tratamento precoce e proporcionando mais qualidade de vida ao paciente e sua família. Ele é obrigatório por lei, e sua realização é gratuita, por meio do SUS, em todos os municípios brasileiros.
Sua coleta é realizada de forma bem simples e rápida, através de uma pequena “picada” no calcanhar do bebê (esse local é escolhido por ser uma região com muitos vasos sanguíneos). O furo é praticamente indolor e algumas gotinhas de sangue são coletadas em um papel filtro especial. Alguns prematuros podem precisar repetir o exame.
Para que essa triagem seja efetiva, a coleta deve ser efetuada, idealmente, entre o 3º e 5º dia de vida do bebê, mas pode ser realizada nos primeiros 30 dias após o nascimento. O esperado seria que todos os recém-nascidos estivessem com o resultado do seu Teste do Pezinho na primeira consulta com o pediatra, que deve acontecer nos seus primeiros 15 dias. No caso de uma triagem positiva, o pediatra orienta o próximo passo para investigação e realização de exames, conforme o fluxograma dos testes de triagem neonatal.
“O teste disponibilizado pelo SUS tem a mesma vantagem do que é feito na rede privada?”
Atualmente, no Brasil, podem ser realizado alguns tipos diferentes do teste do pezinho, cuja nomenclatura varia de acordo com cada laboratório.
A versão básica, fornecida pelo SUS, detecta 6 patologias: hemoglobinopatias, fibrose cística, fenilcetonúria, hipotireoidismo, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita.
As versões ampliadas, cujos nomes variam de acordo com o laboratório, estão disponíveis em serviços particulares e podem detectar de 10 a 48 doenças (incluindo as 6 da versão básica). Dentre elas, estão a deficiência de G-6-PD, galactosemia, leucinose, toxoplasmose congênita e uma pesquisa de erros inatos do metabolismo, que detecta 48 possíveis doenças, sendo estas mais raras.
Também pode ser associada ao teste a pesquisa de algumas imunodeficiências congênitas, de acordo com a orientação do médico, como é o caso da agamaglobulinemia (AGAMA) e imunodeficiência combinada grave (SCID). A detecção precoce desses defeitos imunológicos pode evitar o desenvolvimento de infecções graves. Idealmente, esse teste deveria ser realizado antes dos bebês receberem vacinas como BCG e rotavírus, pois os patógenos atenuados das mesmas podem gerar complicações diante de uma disfunção do sistema imunológico.
A versão básica deve ser obrigatoriamente realizada e é fornecida pelo SUS. Há controvérsias sobre a pesquisa ampliada para as mais de 48 doenças, que é defendida sob o argumento da realização de uma medicina preventiva e possibilidade de diagnóstico e intervenção precoce.
Entretanto, não há informações suficientes sobre a eficácia da triagem ampliada, bem como sobre a condução e tratamento de muitas doenças detectadas por esta. Além disso, há a possibilidade de resultados falsamente positivos, o que pode gerar muita angústia e ansiedade nos pais.
Converse com o seu pediatra, ainda na gestação, para compreender melhor o papel e importância do Teste do Pezinho.
Teste da orelhinha
A surdez é considerada a mais comum das doenças que podem ser diagnosticadas no nascimento, com 1 caso para cada 3000 mil bebês, segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Daí surge a importância de realizar o Teste da Orelhinha, que é o método mais moderno para constatar problemas auditivos nos recém-nascidos. É um exame também assegurado por lei e todos os bebês devem fazê-lo ainda na maternidade, a partir das 48h de vida, e com recomendação de ser executado até os 3 meses de vida.
É rápido, seguro e indolor, feito por meio de uma delicada sonda introduzida na orelhinha do bebê. Consiste na verificação da resposta dos ouvidos aos estímulos sonoros e leva de 5 a 10 minutos para ser concluído. O resultado pode ser avaliado pelo pediatra e, caso haja alguma suspeita de anormalidade, a criança será encaminhada para uma avaliação otológica e audiológica completa.
Teste do coraçãozinho
O teste do coraçãozinho é um exame simples, indolor, rápido, não invasivo, e possui um custo muito baixo. Ele deve fazer parte da triagem de rotina de todos os recém-nascidos, sem exceção, pois é importante para o diagnóstico precoce de cardiopatias congênitas críticas, antecipando as intervenções médicas necessárias e muitas vezes evitando o óbito no primeiro mês de vida. Realizado ainda na maternidade, antes da alta hospitalar, entre 24 e 48 horas de vida, utiliza-se um pequeno sensor externo, o oxímetro, que mede a oxigenação do sangue. Este sensor deve ser colocado primeiramente na mão direita e posteriormente em um dos pés do bebê. As extremidades da criança devem estar aquecidas e o monitor do oxímetro tem que evidenciar uma onda de traçado regular, podendo levar entre um e três minutos para a realização do teste.
O teste é considerado normal quando a saturação de oxigênio medida pelo sensor for igual ou maior que 95% em ambas as medidas (da mão direita e a do membro inferior) e a diferença entre elas for menor que 3%. Se isso não acontecer, o bebê não deve receber alta e continuar em observação, repetindo o teste em uma hora. Caso o resultado se confirme, devem ser realizados os demais exames diagnósticos, de acordo com a indicação médica, a fim de descartar a possibilidade de uma cardiopatia congênita grave na criança.
Teste da Linguinha
O teste da linguinha é um exame que possibilita diagnosticar e indicar o tratamento precoce das limitações dos movimentos da língua, como ocorre na anquiloglossia, também conhecida como “língua presa”. Ele deve ser realizado por um profissional da saúde qualificado, como por exemplo, o fonoaudiólogo, de preferência, ainda na maternidade.
O exame não tem contraindicações e consiste na observação dos movimentos da língua, seja através de sua elevação para verificar se a língua está presa, como quando o bebê está chorando e sugando. Na maternidade, é feita uma avaliação anatomofuncional do bebê, a partir de critérios padronizados que identificam interferência do frênulo nos movimentos da língua. Quando necessário, orienta-se à família a cirurgia para liberação do frênulo lingual, que pode ser realizada por Odontólogos e Médicos. Para bebês, a frenotomia é o procedimento mais indicado. Nos casos onde houver dúvida ou não for possível visualizar o frênulo lingual, a criança é encaminhada para o reteste com 30 dias de vida.
É importante que o exame seja feito o mais cedo possível, preferencialmente no primeiro mês de vida, para que se descubra se há alterações no frênulo lingual que impacte na amamentação, com consequente perda de peso, fissuras mamárias e, principalmente, o desmame precoce, com introdução desnecessária da mamadeira.
Teste do olhinho
Teste do olhinho ou teste do reflexo vermelho é o exame que deve ser realizado nos recém-nascidos para a detecção precoce de problemas oculares que pode acarretar risco de deficiência visual e, até mesmo de vida, no caso do retinoblastoma. Ele serve como rastreio de alterações visuais que, quando presentes, devem ser encaminhados para avalição por oftalmologista.
Esse exame é realizado com um aparelho chamado oftalmoscópio, projetando uma luz nos olhos que, ao atravessar estruturas oculares e atingir a retina, se reflete como um reflexo vermelho nas pupilas. Quando há alguma alteração que gere opacidade desses meios oculares, o reflexo estará ausente ou diminuído, podendo causar um aspecto de “pupila branca” ou leucocoria. Durante o teste, a sala deve estar escurecida para facilitar a observação dos reflexos, não havendo a necessidade do uso de colírios.
As principais doenças que podem ser identificadas precocemente com a triagem visual são catarata congênita, glaucoma congênito, retinoblastoma, leucoma, inflamações intraoculares da retina e vítreo, retinopatia da prematuridade, descolamento de retina, vascularização fetal persistente e hemorragia vítrea.
O Ministério da Saúde recomenda o teste como parte do exame neonatal e no decorrer das consultas pediátricas de rotina, pelo menos, duas a três vezes ao ano, nos três primeiros anos de vida. Desta forma, a triagem visual é garantida pelo SUS, bem como o encaminhamento do bebê para diagnóstico e conduta em unidade especializada. Vale lembrar que o teste do olhinho não substitui a avaliação oftalmológica que os bebês precisam fazer nos primeiros 6 meses de vida ou até, no máximo, 1 ano de idade.
Teste da bochechinha
Apesar de pouco conhecido, o Teste da Bochechinha baseia-se na análise de DNA dos bebês, no qual identifica-se mais de 287 distúrbios genéticos que se manifestam na infância, entre eles doenças raras, imunológicas, hematológicas e alguns tipos de câncer. Não é um teste obrigatório e sua grande vantagem é que ele é capaz de detectar o risco de doenças antes mesmo do aparecimento de sinais clínicos e sintomas, porém seus resultados devem ser sempre avaliados por um médico.
O teste pode ser executado a partir do primeiro dia de vida, não havendo prazo máximo para sua realização que é simples e pode ser feita em centros de referência de doenças raras ou por laboratórios particulares.
Esse exame é realizado através de uma amostra de saliva, que fornece o DNA da criança, coletada através de um cotonete apropriado (swab bucal) inserido no lado interno da bochechinha do bebê. Recomenda-se que a criança fique 30 minutos sem ingerir alimentos, líquidos e sem inserir objetos na boca (exemplo: chupeta, mão, mordedor) antes da coleta.
É de extrema importância que o resultado seja acompanhado por um médico, sempre correlacionando possíveis desfechos com a história de cada paciente. Vale lembrar que ele não substitui o teste do pezinho, apenas o complementa. Converse com seu pediatra sobre a indicação desse teste.