
“É normal meu bebê ficar 3 dias ou mais sem fazer cocô?”
“Meu bebê está se espremendo para evacuar, isso é normal?”
“Ele está chorando muito, será cólica?”
Você já ficou em dúvida com alguma dessas situações? Então esse artigo é pra você!
Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento do aparelho digestivo do bebê envolve aspectos anatômicos, funcionais, interação local e sistêmica com o sistema imunológico e a microbiota. Para se ter uma ideia da complexidade, as células dos tecidos intestinais são formadas a partir de todos os três folhetos embrionários e, além da função digestiva e absortiva, ele possui função endócrina e de barreira, por exemplo.
Ao nascimento, ocorre a transição da alimentação via cordão umbilical e líquido amniótico deglutido para a completa obtenção de nutrientes via leite materno. Nesse momento, o intestino passa por rápido crescimento em comprimento e aumento da superfície absortiva. Pouco antes do nascimento, o intestino mede 100 cm, dobrando o tamanho para 200 cm ainda nas primeiras semanas de vida. Além disso, ainda ocorrem alterações em sua microbiota intestinal, que será definida por alguns fatores, como via de parto e tipo de amamentação.
Nessa fase, é frequente a ocorrência de regurgitações, cólica e pseudoconstipação intestinal. Eles podem ser transitórios e atribuídos à imaturidade do trato gastrointestinal em desenvolvimento — são os chamados distúrbios funcionais, que ocorrem quando não há outras alterações (mecânica, inflamatória, infecciosa ou bioquímica) que expliquem tais achados. Com isso, podemos compreender por que ocorrem algumas manifestações no bebê e, após avaliação cuidadosa, estas serem consideradas fisiológicas. Esse processo de amadurecimento gastrointestinal é mais evidente nos primeiros três meses, acontecendo uma redução dessas manifestações funcionais ao final desse período.
Hábito intestinal: O que pode ser considerado normal ?
Nos primeiros meses de vida do bebê, muitas mudanças acontecem em seu organismo. Você sabia que eles podem evacuar após cada mamada, chegando até 10-12 vezes ao dia, sem que seja considerado um quadro de diarreia?
Isso mesmo, nas primeiras semanas, o bebê evacua de duas a sete vezes por dia e, com o passar dos meses, essa frequência vai reduzindo até que, por volta do segundo ano de vida, se estabilize em uma evacuação diária.
“Mas, doutora, na verdade, o meu bebê já ficou até 7 dias sem evacuar. Isso é normal?”
A resposta é SIM! O recém-nascido ou lactente menor de 6 meses pode passar de 7 a 10 dias sem evacuar, um quadro que chamamos de pseudoconstipação. Acontece principalmente nos bebês que recebem apenas leite materno, pois esse alimento é tão maravilhoso que pode ser completamente absorvido pelo trato digestivo, ocasionando a ausência de evacuações. Então, desde que o bebê esteja clinicamente bem, com boa aceitação da amamentação e desenvolvimento adequado, podemos aguardar o amadurecimento intestinal, sem a utilização de qualquer medicamento laxativo.
Porém, é importante avaliar se existem, simultaneamente, outros sinais e sintomas que indiquem comprometimento da saúde do bebê: febre, vômitos, abdome distendido e tenso, ausência de eliminação de flatos, entre outros. Qualquer alteração no estado geral associado a queixa de constipação requer avaliação médica. Lembre-se que nenhum post substitui consulta médica. Converse com o seu Pediatra.
Cólica no bebê: por que acontece ?
Períodos de choro recorrente e prolongado, agitação e irritabilidade no bebê que não tem febre ou outro sinal de doença podem ser sugestivos de cólica, que pode acontecer até por volta dos 3 meses de vida. Mas entenda, bebês choram por inúmeros motivos: sono, frio ou calor, fome, fralda suja ou porque, simplesmente, querem colo. Alguns pesquisadores definiram que o tempo de choro diário de um bebê, em seus primeiros meses, é em torno de 3 horas/dia. Ou seja, nem todo choro é cólica, mas uma forma de comunicação do bebê sobre suas necessidades.
O mecanismo fisiológico que causa a cólica intestinal em recém nascidos e lactentes ainda é desconhecido, mas relaciona-se à imaturidade intestinal, dismotilidade e a composição da microbiota intestinal. Alguns estudos mostram uma possível hipersensibilidade associada à alergia alimentar e uma hipótese de associação com o tabagismo materno, que aumenta os níveis plasmáticos e intestinais de uma substância chamada motilina.
O ambiente também tem demonstrado influência sobre a maior ocorrência de cólica. Alguns fatores psicossociais, como tensão familiar, ansiedade dos pais ou interação inadequada com o bebê também são sinalizados por alguns estudos.
Essas diferentes causas sugerem diferentes terapêuticas, sejam elas farmacológicas, alimentares ou comportamentais. Por isso, todo caso deve ser avaliado pelo pediatra na rotina de puericultura do bebê, devendo ser proposta a melhor estratégia para o caso. Evitem a automedicação, muitas dos fármacos utilizados para a redução de cólica no bebê não tem comprovação de sua eficácio e pode trazer danos a esse organismo em desenvolvimento. A administração de chás também não é recomendada pelo risco de piora das manifestações gastrintestinais e pelo prejuízo ao aleitamento materno exclusivo. Tenha sempre em mente que o mais importante é compreender o caráter benigno e transitório dessa condição, que tende a se resolver próximo ao 3º mês.
Meu bebê está “voltando” o leite, é normal?
Os bebês podem apresentar regurgitações (“golfadas” ou vômitos). Chamamos isso de refluxo, quando há retorno do conteúdo do estômago para o esôfago, podendo ser eliminado pela boca.
O refluxo fisiológico ocorre principalmente nos bebês menores de 6 meses, pois a dieta costuma ser líquida (leite) e em intervalos “curtos”. Além disso, eles passam a maior parte do tempo deitados e seus mecanismos anti-regurgitação ainda não imaturos. Com o tempo, o trato gastrointestinal vai se desenvolvendo e as regurgitações diminuem sozinhas.
O refluxo deixa de ser um mecanismo normal quando começa a interferir no crescimento e no desenvolvimento da criança. Nesse quadro patológico, chamado Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), pode haver perda de peso ou dificuldade para ganhar, além de choro e irritabilidade maiores que o usual.
Nesse caso, a doença do refluxo gastroesofágico, ao contrário do refluxo fisiológico, necessita de tratamento e, em casos específicos, exames diagnósticos. Por isso, o acompanhamento regular é sempre tão importante.
Disquesia: quando o bebê se "espreme" para evacuar
Você já reparou algum episódio em que seu bebê faz muito esforço, fica vermelho, geme, ou até chora, para conseguir evacuar?
Pois é, chamamos isso de Disquesia do lactente. Ela ocorre, principalmente, nos primeiros 6 meses de vida e é um distúrbio fisiológico do trato gastrointestinal. Acontece tanto em bebês que recebem aleitamento materno exclusivo como naqueles que recebem fórmula infantil. Não é considerada uma doença e tende a se resolver com o tempo.
Esse quadro caracteriza-se pela ocorrência de episódios de esforço, gemidos e choros que antecedem as evacuações diárias. O bebê com disquesia pode levar até 20 minutos para conseguir evacuar e, apesar de ser bastante comum durantes os primeiros meses de vida, é uma situação que causa bastante desconforto na criança e nos pais.
A explicação para isso relaciona-se à incapacidade do bebê em coordenar a vontade de evacuar com o relaxamento da musculatura pélvica e do esfíncter anal. A disquesia se resolve com o tempo, de acordo com o desenvolvimento e crescimento da criança e, portanto, não é considerado doença, nem necessita medicamentos.
“Mas, doutora, o que eu devo fazer?”
Primeiramente, mantenha a calma e acolha seu filho. Dobrar as pernas da criança sobre a barriga pode ajudar na evacuação. Não utilize laxantes, supositórios, chás e nem realize estímulo na região anal do bebê. Nada disso é necessário nos quadros de disquesia, podendo até ser prejudicial. Se você não conseguir lidar com essa situação sozinha, consulte seu pediatra para melhor esclarecimento. Lembre-se que nenhum post ou artigo substitui a avaliação médica.